top of page

O Aikido faz bem 

 

Certamente já ouviram falar do Aikido, mas têm a certeza que sabem realmente o que é? têm a imagem adequada? 

 

 

Sabem por exemplo o que o diferencia das outras artes marciais? E porque não há lugar no Aikido para a competição? 

 

A resposta está incluída no objectivo do Aikido em si:  transformar toda a situação de conflito numa situação de comunicação. Não vencer, aniquilar ou humilhar o outro,  e sim educá-lo, despertá-lo e tentar que os dois protagonistas saiam beneficiados da experiencia.  Considerem que um conflito bem resolvido não deixa nem ferida, nem frustração nem amargura, nem espírito de vingança e portanto, nem vencedor nem vencido. 

 

A estratégia do “Ganhador/ganhador” 

 

A dimensão espiritual do Aikido reside aí. Não há nada de misterioso e pode expressar-se com simplicidade.  

 

Mas, dir-me-ão.... tudo isto é muito abstracto e teórico.! 

 

Certo... mas o objectivo do Aikido é justamente o de propor uma práctica em consonância com as suas ambições teóricas. Uma práctica primeiramente física, construída formalmente como uma defesa pessoal, baseada na repetição de técnicas, de projecção e imobilização,  harmoniosas e não traumatizantes.  

 

Ainda que o essencial do trabalho seja de coordenação,  e portanto de controlo dos movimentos muito mais do que da utilização da força e da velocidade, participam todos os músculos e articulações e, por isso, é ideal para recuperar ou manter a condição fisica 

 

Partir à procura de si mesmo no intercâmbio com o outro,  e inversamente, melhorar a relação com o outro justamente porque nos sentimos melhor com nós próprios, eis o que o Aikido propõe. 

 

E como condição,  evidentemente, por da vossa parte, porque nada ocorrerá sem os valores humanos fundamentais como a humildade, a perseverança e o compromisso, do qual, espero, não saiam desprovidos. 

      ​​

 

           Autor: Franck Noël Shihan

      Tradução: Ana Rita Petronilho

Aikido faz bem

Entrevista a Franck Noël Sihan durante o seminário de Endo Sihan em Toulouse, Outubro de 2004.

 

 

     Franck NOËL é atualmente 6º Dan de Aikido(no momento da entrevista), grau que lhe foi outorgado pelo Aikikai de Tóquio, centro mundial do Aikido, onde esteve 8 anos e com quem mantém uma relação permanente. Ocupa o cargo de Presidente do Colégio Técnico da FFAAA (Federação Francesa de Aikido, Aikibudo e Afins). Organiza e dá formação em inúmeros seminários em França e na Europa e dá aulas no seu Dojo em Toulouse. Durante o seminário de Enso Seishiro Sensei, a 2 e 3 de Outubro de 2004, que reúne grandes nomes do Aikido francês, o senhor Noël, organizador e tradutor do evento, aceitou responder no intervalo de duas aulas a algumas perguntas:

 

Takeda: Como é que as artes marciais se difundiram em França, em particular o Aikido?

 

Franck Noël: O Aikido chegou nos anos cinquenta, entrando por Marselha e difundindo-se para Paris. Tanashiyabe Sensei foi o primeiro a chegar seguido de três Senseis japoneses que se instalaram em França durante bastante tempo: Tamura Sensei que continua a viver aqui, Noro Sensei, que também permaneceu e que, depois de ter sofrido um acidente, mudou a sua forma de praticar Aikido para uma vertente mais suave, acabando por criar a sua própria disciplina; e por último Nakazano Sensei que começou a sua carreira em Marselha (França), passando por Paris e fixando-se nos Estados Unidos. Este faleceu há cerca de 10 anos. Estão apresentados os três pioneiros do Aikido em França.

 

Takeda: Existem vários tipos de Aikido, uma normalização traria benefícios ou é preferível esta diversidade?

 

Franck Noël: As duas, claro. Isto é, é necessário haver uma linguagem comum para que a disciplina se reconheça como pertencente à mesma arte, ter um reportório técnico que seja identificável, como reportório técnico do Aikido. No entanto, a pedagogia deste reportório técnico, para que desenvolva os valores do Aikido, deve ser extremamente variada e diversificada e é por essa razão que a riqueza e as potencialidades do Aikido podem ser exploradas. Em toda a instrução é necessário, penso eu, um pouco de formalismo, sobretudo ao início. Posteriormente deve fazer-se o possível para que o ensino da arte não se cinja a este formalismo. É necessário diversificar, procurar as diferentes possibilidades de explorar esta riqueza técnica que adquirimos.

 

Takeda: Como é que você explica o sucesso do Aikido em França e o número crescente de praticantes, que supera inclusive o número de praticantes no Japão, uma vez que não há competição, não há necessidade de combater e não se vive numa cultura baseada na guerra?

 

Franck Noël: Não temos a certeza de que o número de praticantes supera o do Japão, mas é verdade que está muito próximo. A razão é simplesmente porque o Aikido é uma disciplina fundamentalmente humana. Penso que toca em valores muito profundos e universais do ser humano e, mesmo que não conheçamos o Aikido muito bem, quando nos aproximamos um pouco percebemos que tem algo de muito profundo e universal como mensagem. Não é, sem dúvida, pelo seu aspeto exterior que tem sucesso mas sim pelos valores que defende.

 

Takeda: O que destacaria do seu Aikido?

 

Franck Noël: Aquilo em que faço mais finca-pé é em tentar fazer ver que o Aikido é uma procura, algo que evolui a cada momento, que não deve ter-se como pré-estabelecido, que não tem nunca uma verdade absoluta; provocar sempre nos professores e alunos o espírito da procura, a ideia de ir sempre mais longe, de sair dos terrenos já explorados. Considerando portanto que é uma aventura, um caminho, encontramo-nos perante a tradução de DO da palavra Aikido. Mas não há um objetivo a alcançar, nem perfeição à vista, nada será sempre perfeito. O que importa é manter-se em movimento.

 

Takeda: Você organiza muitos seminários, pensa que a consequência do contacto constante com diferentes técnicas possa vir a perturbar esta busca? Demasiadas influências não podem provocar um desvio?

 

Franck Noël: Penso que cada um é responsável pelos seus atos, tudo depende da escala em que nos situamos. Não há escala no Aikido, a escala é toda uma vida, o objetivo é absolutamente inacessível uma vez que é demasiado ideal. Por essa razão, partindo desta base, não há engano possível. Podemos enganar-nos mas isso nunca será um problema desde que nos mantenhamos no caminho e em movimento. O que quero dizer com manter-se em movimento é que se não nos detemos com os nossos erros, os nossos erros não têm importância, muito pelo contrário, vamos aprender com eles. Assim sendo, o importante é aproveitar o máximo de oportunidades de desenvolver coisas interessantes, produtivas, ricas. E se acreditarmos que há um processo exato e perfeito e que o resto não é valido, estamos já a limitar-nos a nós próprios no próprio sentido da nossa busca. O facto de o praticante se sentir perturbado não quer dizer que esta perturbação seja negativa, pelo contrário, ao não estar confrontado com algo que já conhece vai permitir que progrida, que vá mais longe, que veja outras coisas.

 

Takeda: As artes marciais são independentes umas das outras ou existem vínculos que lhes permitem coexistir?

 

Franck Noël: As artes marciais são atividades humanas, toda a atividade humana tem vínculos com aquilo que lhe está relacionado. Ainda enquanto atividade humana é uma disciplina corporal, obedecendo a leis biomecânicas que são comuns a todas as atividades físicas. A maneira ergonómica de utilizar o corpo pode ser usada em qualquer outra disciplina. Neste aspeto há evidentemente um fundo comum, se quisermos chamá-lo assim, mas, uma vez mais, esta característica é comum a toda a atividade humana. No entanto, no que diz respeito ao objetivo e método, o Aikido é claramente específico, não podemos comparar. É como dizia Endo Sensei no final do seminário, o Aikido é o Aikido, não pode ser comparado com outras disciplinas, não porque rejeitemos outras disciplinas, mas simplesmente porque se trata de uma coisa diferente. Da mesma forma que não vamos definir o futebol tendo por comparação o andebol, ou vice-versa; é diferente.

 

Takeda: Muito obrigado Senhor Noël.

IKIGAI - 生き甲斐

 

 

      Na cultura japonesa, considera-se que todos temos um ikigai escondido. É a razão de ser de cada um. Encontrá-la obriga a uma busca profunda e prolongada de si próprio, um processo que é considerado muito importante. Pensa-se que o descobrimento de um ikigai traz satisfação e sentido à vida. O ikigai pode ser alguma coisa simples, específica e particular da pessoa como um hobby, uma relação, um projeto ou algo que o encante ou motive.

Toshimasa Sone e os seus colaboradores desenvolveram um estudo na Universidade de Tohoku, em Sendai, Japão, para avaliar a relação entre viver com um sentido e a longevidade. Eles acompanharam 43.000 adultos durante sete anos. Os investigadores descobriram que os indivíduos que pensavam que a sua vida valia a pena ser vivida, que encontravam a razão de viver, apresentavam uma probabilidade mais pequena de morrer mais rápido, quando comparados com os restantes.

       

       A partir desta reflexão, são várias as perguntas que nos vêm à cabeça:

 

Existe alguma “coisa” que me crie exaltação e excitação de tal forma que me sirva de força motriz para lutar por ela? Posso consegui-la a curto ou longo prazo? E o Aikido, como está relacionado com este tema?

Ao tentar responder a estas questões vemos as analogias que relacionam o Aikido com este conceito.

 

       Todas estas perguntas são evidencia de, primeiro, um estudo, uma reflexão, uma análise interior da pessoa e posteriormente do seu ambiente, do seu habitat.

 

Trata-se de encontrar a existência de alguma coisa que nos desperte verdadeiro interesse ou que nos faça estar dispostos a investir muito esforço, empenho, dedicação e tempo para consegui-la.

 

       O Aikido, assim como qualquer outra arte ou disciplina que tenha uma perspetiva a longo prazo, tem aqui um papel importante.

 

      O Aikido como ikigai poderia ajudar-nos, uma vez que reúne todas as qualidades necessárias graças à sua natureza de Do: via ou caminho que nos leva a uma busca, de caracter infinito e através da prática de valores como a noção de respeito, espontaneidade, comunicação, economia, beleza de movimentos e gestos,…etc. Estas noções são extrapoláveis para situações do dia-a-dia e podem favorecer fortemente as relações humanas.

 

       A sua prática desenvolve no individuo uma série de qualidades (confiança em si mesmo, autocontrolo, gestão das emoções através de uma leitura e interpretação da realidade mais racional) que lhe permitem enfrentar as adversidades quotidianas de uma maneira mais descontraída e até mesmo desfazer-se delas se for necessário.

 

     Todos temos um talento a explorar que devemos partilhar com os nossos pares. Este intercâmbio de saber-fazer conduzir-nos-á ao progresso coletivo e aproximar-nos-á a uma perfeição global que vai refletir-se no individuo e no ambiente que o rodeia.

bottom of page